Sobre este Blog

“Disse que seu livro se chamava o Livro de Areia, porque nem o livro nem a areia tem princípio ou fim. (...)
O número de páginas deste livro é exatamente infinito. Nenhuma é a primeira; nenhuma, a última”.

Jorge Luís Borges, O Livro de Areia

sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Caro Leonard



A  Virgínia Wolff

Não ouça o soluço,
o choro. As águas
não choram, não queixam,
não deixam (não deixe)
que a dor as consuma.
As lágrimas somam-se
às águas que seguem,
às águas que levam,
às águas que cegas
caminham pro mar
onde hão de perder-se,
aonde desaguam
todas as águas.

Não tente, não sabes,
quão forte é o medo,
(mais forte que as águas)
quão frágil é o corpo,
(mais frágil que as águas)
quão leve é a alma,
(mais leve que as águas)

Não pense, não veja,
meus passos que cedem
(as águas têm sede).
Não sinta o que dizem
as águas que lavam,
as águas que cegas
me levam pro mar
onde hei de perder-me.

Minh’alma é mais leve:

caminha por sobre as águas.