Sobre este Blog

“Disse que seu livro se chamava o Livro de Areia, porque nem o livro nem a areia tem princípio ou fim. (...)
O número de páginas deste livro é exatamente infinito. Nenhuma é a primeira; nenhuma, a última”.

Jorge Luís Borges, O Livro de Areia

domingo, 26 de junho de 2016

À mesa



Em torno de etérea mesa
os deuses se sentam.

Conscienciosos,
decidem destinos:
a este a fortuna,
àquele a miséria.

E o mundo adormece
sabendo nada poder,
(senão uma prece)
contra divinos desígnios.

Mas os deuses,
estão sepultos,
os deuses!

A quem a fatura 
dos mortos na guerra?
A quem culparemos
pelas pandemias?
A quem rogaremos
o sorriso da sorte?
A quem pediremos:
"Livrai-nos do mal?"

O mundo lamenta,
(soluça, convulsa) 
a morte dos deuses.

E homens sentados
em torno de mesas
sólidas, concretas,
mastigam vorazes
o  m-u-n-d-o 
esquartejado.


Dois velhos tomando sopa. (GOYA)