Em torno de etérea mesa
os deuses se sentam.
Conscienciosos,
decidem destinos:
a este a fortuna,
àquele a miséria.
E o mundo adormece
sabendo nada poder,
(senão uma prece)
contra divinos desígnios.
Mas os deuses,
estão sepultos,
os deuses!
A quem a fatura
dos mortos na guerra?
A quem culparemos
pelas pandemias?
A quem rogaremos
o sorriso da sorte?
A quem pediremos:
"Livrai-nos do mal?"
O mundo lamenta,
(soluça, convulsa)
a morte dos deuses.
E homens sentados
em torno de mesas
sólidas, concretas,
mastigam vorazes
o m-u-n-d-o
esquartejado.
Dois velhos tomando sopa. (GOYA) |