Sobre um tema de Camus
Eis a minha história, pelo que
dela me recordo.
Era, então, a Guerra, não sei mais qual delas. Havia esse soldado. E havia aquela casa onde a mulher abraçava seus dois filhos. Misericordioso,
o soldado concedeu-lhe uma escolha. Disse que deixaria viver um dos meninos, o
que ela mais amasse. Em lágrimas, a mãe implorou que deixasse viver a ambos. Com
a mesma frieza ele insistiu na proposta: “Não seja tola. Tens a oportunidade de
salvar a um dos teus. Salva aquele a quem mais amas. Do contrário terei de
matar a todos.” Ela olhou para os dois filhos, como que mensurando o
imensurável e sentenciou, embargada a voz: “Deixa viver o mais novo”. Sem hesitação,
o soldado arrancou o preferido dos seus braços e o fuzilou. Depois atirou na
mulher. Antes de sair, disse ao sobrevivente: “Nunca te esqueças que tua mãe escolheu
teu irmão”. Então partiu.
De todas as
coisas me recordo com clareza. Só não me lembro se fui o soldado ou o
menino.