... e que a despeito do tratamento, não houve qualquer remissão do delírio. Tenho acompanhado à
distância o quadro. Com o tempo, ele adquiriu esses gestos meticulosos, contidos e
incorporou ao vocabulário um sem número de jargões técnicos. Aprendeu um modo
grave e aparentemente preocupado de olhar para os demais internos.
Já repreendi as
enfermeiras por o permitirem usar o guarda-pó branco sobre o uniforme, mas
estas me ignoraram, como de costume (são irremediavelmente insubordinadas, essas...). Creio
mesmo que se divirtam ao vê-lo desfilar pelos jardins e corredores fazendo
prescrições e diagnósticos enquanto os outros pacientes o tratam com temerosa
deferência. Sob a alegação
de que seu comportamento não representa risco, permitem-no deixar as dependências
do hospital (procedimento que reprovo, pois, segundo me parece, reforçam suas
convicções delirantes).
Pretendo, oportunamente, encaminhar minhas notas ao
Diretor do Hospital para que tome as devidas providências. Se ainda não o fiz é
apenas por falta de tempo. De fato, por força do excesso de trabalho, me vejo
obrigado a permanecer noite e dia entre estas abomináveis paredes verde oliva.