Sobre este Blog

“Disse que seu livro se chamava o Livro de Areia, porque nem o livro nem a areia tem princípio ou fim. (...)
O número de páginas deste livro é exatamente infinito. Nenhuma é a primeira; nenhuma, a última”.

Jorge Luís Borges, O Livro de Areia

sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

Chopin



Evitação
do que no mundo

é mudo.


Dancem os dedos,

semínimos.

Valsas e

Mazurcas.

Agudem

os ouvidos.


Que a morte

é Breve,

e é Grave,

e veste areia,

e talvez seja

essa mulher

chamada Jorge.


(tosse,

aos poucos,

o resto

de alma

pra fora

do corpo)


quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Carta ao Senhor Maiakovsky

“Dizem que em algum lugar, parece que no Brasil, existe um homem feliz.” 
Vladimir Maiakovsky, 1907


                                                                              Brasil, 12 de Fevereiro de 2014.


Caro Senhor Maiakovsky,

Escrevo em razão dos seus versos. Peço, desde agora, desculpas pela demora da minha resposta (já terão se passado mais de cem anos desde que escreveste a denúncia em questão). Talvez minimize minha culpa o fato de eu só existir pouco mais de um quarto de século, quando o senhor, há tempos já havia partido. De qualquer forma: eis vossa resposta (antes tarde do que nunca, costuma-se dizer por estas bandas). E a importância da matéria em questão merece um posicionamento, mesmo que tardio.
Saiba que é com imenso pesar que escrevo ao senhor para comunicar que temos fortes razões para crer que, no Brasil, não exista nem jamais tenha existido o tal “homem feliz”. Ou, se o referido sujeito alguma vez pisou por estas terras, soube esconder com tamanho sucesso sua condição singular, que nem eu, nem nenhum dos meus conterrâneos, jamais a suspeitamos. Seguramente, como o senhor pode imaginar, se tal pessoa de fato existisse, dificilmente passaria despercebida. É provável, quase certo, que se alguém se deparasse com tamanha aberração, comunicaria, de imediato aos jornais onde figurariam manchetes de primeira página: “Encontrado, no Brasil, um homem feliz”. Mas, como tal coisa jamais aconteceu, podemos supor que são falsos os boatos de que aqui exista (ou tenha existido) tal homem. Durante os anos de ditadura, há quem o afirme, esteve entre as ordens do dia encontrar o referido sujeito (como o senhor deve supor, qualquer governo, canhoto ou destro, teria boas razões para exibir publicamente um “homem feliz”, prova inconteste do sucesso de suas arbitrárias políticas). Contudo, jamais foi encontrado.
Espero, sinceramente, que o senhor obtenha êxito na sua procura. Com esta carta não pretendo desanimá-lo, mas, tão somente, poupar-lhe o trabalho de uma busca infrutífera. Fato é que se tal felicidade  existe não demos com ela por estas terras. Não se deixe enganar por nossos muitos festejos: são artimanhas pra iludir de um só golpe a tristeza e os turistas. É preciso dizer-te que eu não creio que a felicidade exista? O senhor já o terá adivinhado. Contudo, se me permite, caso pretenda prosseguir sua busca, sugiro que o faça na Tailândia. Faz alguns meses, vi uma fotografia suspeitíssima: Imagine o senhor, um homem sorria- e era como se sorrisse de fato! Se eu acreditasse na felicidade, eu diria que ela mora na Tailândia. Mas, meu ceticismo não me permite tal crença... 

Cordialmente,

Henrique Fagundes Carvalho