Sobre este Blog

“Disse que seu livro se chamava o Livro de Areia, porque nem o livro nem a areia tem princípio ou fim. (...)
O número de páginas deste livro é exatamente infinito. Nenhuma é a primeira; nenhuma, a última”.

Jorge Luís Borges, O Livro de Areia

quarta-feira, 23 de novembro de 2022

Sagitário

 


A flecha que nascendo arremessaste

para o alto, para a frente, em dura reta

obedece ao tempo e à ordem de ir adiante.

Não esquece: segue sempre a seta, a seta.


Corre! A seta...

Corre!

Avança!


Pois se a natureza fez-te assim cindido,

homo-equino, num só corpo conformado,

foi para não te cansar de ter corrido

antes que tenhas tua meta alcançado.


Corre! A seta…

Corre!

A seta não espera.


Mas, porque a terra é esfera e gira e valsa

ao redor da estrela, estás de volta agora

onde outrora e tua flecha se perdera

no girar, quem sabe o alvo o tenha às costas?


Foge! A seta…

Corre… A seta…

O futuro...

corre.

Corre!


Corre a galope centauro,

contorna, outra vez, a estrela

que a própria vida é quem corre.

Corre!

Corre!


Antes que a seta lançada

girando te atinja o flanco

e do passado, sejas para sempre manco

desse futuro que houvera projetado.


Corre!

Corre!

Que a vida corre.


A vida é um correr

que não abranda.

(Mas lembra de fazer,

enquanto a terra gira,

do teu próprio correr

uma ciranda.)