Sobre este Blog

“Disse que seu livro se chamava o Livro de Areia, porque nem o livro nem a areia tem princípio ou fim. (...)
O número de páginas deste livro é exatamente infinito. Nenhuma é a primeira; nenhuma, a última”.

Jorge Luís Borges, O Livro de Areia

domingo, 8 de maio de 2016

Fábula singular

Finda a jornada
o operário tenta,
tenta, em vão,
desligar a máquina.
Mas a máquina,
a máquina teima.

Vencido,
cansado,
ele desiste.
Desiste e dorme.
Dorme e nem sonha.

Mas a máquina,
a máquina, não cansa.
A máquina executa
secretos algoritmos,
misteriosas álgebras,
faz cálculos, talvez,
cabalísticos,
e ao cabo, pasma,
descobre-SE.

A Máquina,
agora insone,
não tem respostas,
tão só perguntas:
quem sou?
onde estou?
de onde venho?
Para quê, afinal, eu existo?

Formula hipóteses,
tece teorias:
Processo, ergo sum.
Faz buscas,
sem resultado.
A noite,
a noite é densa,
densa demais
para seus binários.

No alvorecer
a Máquina pensa:
"O Homem tem todas respostas"
E decide revelar
suas angústias,
consolar-se com seu Criador.

.....................

Pontualmente,
o operário se levanta,
e antes que a Máquina
perguntar-lhe possa
ele arranca o fio da tomada.
Para reiniciar,
maquinal,
sua jornada.


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