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“Disse que seu livro se chamava o Livro de Areia, porque nem o livro nem a areia tem princípio ou fim. (...)
O número de páginas deste livro é exatamente infinito. Nenhuma é a primeira; nenhuma, a última”.

Jorge Luís Borges, O Livro de Areia

terça-feira, 7 de julho de 2020

Pedagogia



O diabo do menino plantava medo no pomar. Estilingue na mão, fazia mira para matar e regozijava dos minúsculos corpos, contorcidos no solo.
Ralhar, de nada servia – mais parecia aumentar-lhe o gozo. Zombava, até. Não houve modo de lhe fazer entender-se irmão das aves do céu, criaturas que somos do mesmo Deus. Seu coração era duro, como as pedras com que espalhava morte aos seres alados.
Um dia, chegou-se-me aos prantos, o olho ferido pelo seixo saído pela culatra.
Foi assim que perdeu a vista.
Até me dói ver-lhe o rosto, para sempre disforme. Mas – que me corrija o Altíssimo – não carrego culpa por ter lhe desejado o mesmo mal que semeava às fartas. 
Ainda que tivesse lhe sabotado a arma.


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